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quinta-feira, 28 de julho de 2011

O que Dr. House ensina sobre liderança?!

Para especialistas em gestão, o médico mais rabugento da TV não se daria bem em qualquer empresa.

O doutor Gregory House já falsificou exames para tratar pacientes com procedimentos experimentais. Já trocou medicamentos sem que os doentes consentissem. E, na maioria dos casos, todos saíram andando do Princenton-Plainsboro, o hospital-escola onde trabalha, no seriado de TV a cabo que leva o seu nome e volta ao ar no Brasil nesta semana. Mas até que ponto o estilo de House pode servir de inspiração para executivos do mundo real? 

Para o vice-presidente da consultoria Thomas Brasil, Edson Rodriguez, exageros à parte, House corresponde ao papel de “líder por competência”. É o tipo de líder que se impõe pela sua qualidade profissional, inteligência acima dos padrões e sua capacidade de apresentar resultados mesmo em situações extremas e de alto risco. É esse rendimento que faz com que ele seja respeitado pelos colegas e subordinados, mesmo com todos os problemas de convivência que ele apresenta.
Deficiente social
O lado misantropo de House é o que reduz ao mínimo suas chances de sobrevivência no mundo corporativo, segundo Rodriguez. Fugir de comemorações de Natal é o básico para o médico mais rabugento da TV. E, na vida real, a maioria das equipes precisa de um bom entrosamento para funcionar – algo que o líder deve ajudar a criar.
Mesmo assim, há ocasiões em que o personagem encontraria seu espaço. “O resultado vem sempre em primeiro lugar. A empresa não pode se dar ao luxo de dispensar um profissional bom como o House, se ela não tiver alguém tão capacitado quanto ele para ficar no lugar”, diz Rodriguez. É justamente isso que garantiu que a diretora do hospital, Cuddy, aturasse as suas maluquices nas seis primeiras temporadas – em várias ocasiões, Cuddy disse em alto e bom tom que, apesar de tudo, House resolvia casos dados como perdidos por dezenas de médicos.
Já o professor da Fundação Dom Cabral Anderson Sant’Anna é mais crítico. Ele considera que um líder mal humorado e inteligente como o médico só é útil, se a empresa estiver pensando só no curto prazo. Com o tempo, o resultado deixa de ser satisfatório, para virar uma grande dor-de-cabeça, principalmente no contexto brasileiro, em que a retenção de bons profissionais tem se mostrado cada vez mais desafiadora para as empresas.
“No médio e no longo prazos, eu duvido que as pessoas permaneçam na equipe. Elas podem ficar um ano ou dois, porque estão aprendendo, mas, na primeira oportunidade, vão embora. Cada vez mais, as pessoas buscam qualidade de vida no trabalho”, afirma.
Desafios à equipe
House joga os médicos de sua equipe uns contra os outros. Delega tarefas que seriam classificadas como assédio moral, como lavar seu carro. Manda-os virarem a noite realizando exames que ele mesmo sabe que não darão em nada. Enfim, um inferno para 90% das pessoas.
Mas, surpreendentemente, House sabe motivar sua equipe a produzir resultados. Suas tiradas mal educadas e irônicas, seu mau humor constante e até mesmo seus deslizes éticos e morais para dar os diagnósticos corretos são um combustível para que sua equipe se empenhe sempre.
O segredo dele está no desafio que lança aos liderados. “House desafia, cutuca as pessoas. É importante criar um ambiente de trabalho desafiador, em que as pessoas possam experimentar arriscar e se responsabilizar pelas tentativas”, diz Sant’Anna, da Dom Cabral.
Rodriguez, da Thomas Brasil, concorda. “House é um chato de galocha, é arrogante, mas usa essa tática de liderança, mesmo às avessas, de desafiar as pessoas para gerar resultados”.É claro que o jeito do médico de provocar a equipe não funciona com todos os perfis de profissionais. O desafio é importante, mas, para que o retorno seja satisfatório, é preciso saber os limites da provocação.
Equipe certa para o “House”
A relação de Chase, Foremann, Treze e Taub – a equipe de House – com o médico é a tradicional mistura de forte admiração pela sua genialidade com um ódio quase mortal pelo seu descaso com os humanos. Afinal, House não se cansa de repetir que gente o deixa entediado.
Montar uma equipe capaz de atuar com (e aturar) alguém como ele não é fácil. Para Rodriguez, da Thomas Brasil, profissionais com objetivos e metas bastante específicos e claros podem ter mais facilidade de conviver com chefes como o protagonista da série. “A equipe dele é muito especializada. Os membros gostam de desafios, de se destacar, têm um perfil competidor. Como líder, House usa isso a seu favor”, diz.
Para Sant’Anna, da Fundação Dom Cabral, gerar competição na equipe para chegar ao melhor resultado é uma fórmula ultrapassada. Isso seria particularmente preocupante no Brasil, onde as pessoas têm uma cultura menos voltada à competição, quando comparada à dos Estados Unidos. Mesmo assim, ele concorda que há pessoas dispostas a entrar no ritmo mais pesado e menos amistoso em nome de “um bem maior”, que pode ser um bônus, um currículo mais atrativo, experiência ou fama.
O professor da Fundação Dom Cabral afirma que essa disposição para trabalhar em um ambiente de “toma lá, dá cá” varia de acordo com a personalidade e a fase da vida pela qual o profissional está passando – principalmente no início da carreira. “Há jovens que são mais dispostos do que outros a ficar em um ambiente mais agressivo, e o momento da vida pode ajudar a dar mais energia e vontade de entregar resultados”, diz.
Mas Sant’Anna alerta que, com o passar do tempo, essa concepção muda e aquilo que antes era importante deixa de fazer diferença. O bônus no final do mês, por exemplo, passa a ser menos válido do que uma vida mais tranqüila. E uma vida mais saudável é algo que, definitivamente, não está no receituário de House para os seus subordinados.
Luciana Carvalho - Exame.com

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